terça-feira, 5 de maio de 2020

A PAZ


A paz verdadeira não se estriba no próprio entendimento, não é uma conquista baseada na força, no próprio intelecto, nem mesmo na própria virtude. A paz verdadeira é aquela que sobrepuja o bem e o mal, que está além das circunstâncias, além do alegrar-se e do entristecer-se. A paz verdadeira, aliás, nada tem a ver com os transitórios humores e afetos. Não está ancorada em base transitória, tampouco em fenômenos de  ilusão. É como o espaço infinito que abarca a totalidade dos fenômenos passageiros e ilusórios do dia e da noite, do frio e do calor, da secura e da umidade, etc. Não se está a afirmar que tais paisagens não existem... É fato que os dias sucedem às noites, o frio ao calor, etc, contudo não são a realidade última, a base de sustentação de todo o espetáculo cósmico. São, antes de mais nada, manifestações da luz criativa que faz mover os átomos, arranja e rearranja as moléculas, formando toda uma gama infinda de projeções, aspectos, sensações, cores, cheiros, texturas, sabores... Tudo, porém, perecível, transitório, passageiro... Uma paz que se estriba nisso tenderá naturalmente  a perder-se, restará por terminar, atingirá inevitavelmente o seu declínio, como ao se descer do penhasco em uma montanha russa. Estará sujeita aos ventos do chamado destino, que nada mais são do que os intermináveis convites do Espírito para o despertar da consciência. A paz, portanto, só pode ser genuinamente alcançada pelo "reconhecimento" da Eterna Presença de Deus Criador, pela contemplação do Uno nas múltiplas formas do Verso do Universo... Dentro do Verso há intermináveis caminhos, muitas formas, diversos meandros, várias esquinas, muitas setas, caminhos longos e curtos, alguns simples, outros complexos. Entretanto, o destino é um só, seja qual forma a forma que se escolha para reconhecê-lO. Nesse reconhecimento, pois, é que está a paz verdadeira. Não depende, nem nunca dependeu de vitórias, nem de derrotas, de alegrias, ou de sofrimentos. Ela sempre esteve ali, perene, sempre constante, "inerente" à essencial Natureza da Criação de Todos os Fenômenos, e, por consequência, sempre esteve inexoravelmente dentro de nós. Não se conquista a paz, não se trabalha para construí-la, não pode ser tomada à mão, apenas pode ser sentida, pois ela é integrante do que sempre foi e nunca deixará de ser: o Incriado Pai de todos nós, dos quais somos partes, como fragmentos de um único espelho trincado... Daí a dizer-se que Deus abre uma janela de consciência e olha para Si Mesmo através de cada ser.

Leva-se tempo compreender isso, mas nada mais é do que conhecer Aquilo que somos em essência. Não há nem nunca houve eu e você. Apenas há a Vida que se expressa por mim e por você. No entanto, enquanto estivermos mirando o sol, enxergando unicamente o suceder das noites, ou vendo uma planta nascer "lá fora" ainda estaremos presos nesse espetáculo ilusório, porém existente. Isso não é mal. É apenas uma aceitável escolha. É um estágio necessário da caminhada da consciência... Está tudo bem... Não há problema em brincar de ser mortal, pois, afinal de contas, é apenas um sonho... Assim como uma criança perde a atração pelos brinquedos e começa a se envolver em tarefas mais sérias, um dia iremos despertar para essa realidade do Ser. Logo, logo,  para se valer de uma metáfora, "nossos pés tocarão o chão e nos ergueremos de nossa cama para abrir a janela e contemplar o Dia". Entendam aqueles a quem foi dado entender, não com a mente, ou com o intelecto, mas com a inteligência do coração, da Alma, do Espírito...



 Votos de paz.

Lavras do Sul, 5 de maio de 2020.


Às 4h57 AM.

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