Nascemos num corpo de carne,
que também é um veículo da consciência, daquilo que, em essência,
realmente somos. Digo isso, não por ter lido em algum livro, ou por
ter ouvido alguma pregação, mas, sobretudo, por ter tido
experiências, ainda neste corpo, que me convenceram de que eu não
sou ele (o corpo), que ele é antes um boneco orgânico, dotado de
uma energia própria e de um certo processo de vida, por assim dizer,
vegetativo, que abriga durante algumas horas aquilo que eu sou, ou
seja, como já dito, a consciência.
Temos, geralmente, uma visão
de vida completamente avessa à realidade. E isso é a regra na nossa
atual sociedade, e não poderia ser diferente diante dos valores que
nela são inseridos, e com os quais alimentamos os nossos sentidos
desde a mais tenra idade. A consciência do eu se identifica com o
corpo, passamos a agir, a fazer as coisas, a viver em função dele,
até nas coisas mais simples, quando, por exemplo, machucamos um
dedo, não raro ouvimos dizer: “veja, eu me cortei” (não se
ouve, “veja o dedo do meu corpo está cortado”). Diferenças
sutis, mas que são monstruosas do ponto de vista da realidade da
vida.
Ou, ainda, quando alguns leem
algum livro, ou estudam algo a mais sobre a realidade extrafísica,
que é o nosso mundo original, trazem consigo a ideia inicial, também
avessa, de que o corpo espiritual e o mundo espiritual são como se
fossem réplicas deste mundo em que estamos. Contudo, é justamente o
contrário que se dá, esse corpo carnal e esse mundo no qual estamos
é que são, com efeito, as réplicas imperfeitas do corpo e do mundo
original, que são espirituais.
Dizer que são espirituais,
para o fim a que me proponho nesse texto, não significa dizer que
são coisas vagas, sem formas, sem dimensão, tamanho, cheiro,
medida, etc. Até pode ser de um ponto mais elevado ainda, mas não
por este ângulo que estou tentado expor, qual seja, o ângulo do
mundo astral, onde a consciência ainda é revestida por um invólucro
material, mais sutil, mas que ainda assim é material, e com o qual
se expressa no mundo para o qual vamos, ou para a dimensão para qual
vamos logo em seguida ao desenlace decorrente do falecimento do corpo
físico.
E nesse sentido podemos dizer
que há vários tipos de corpos astrais, ou espirituais, lembrando
que a denominação astral surgiu em decorrência da corrente
ocultista, que comparava a luminosidade dos corpos com a luminosidade
de certos astros, daí surgindo essa denominação, sem prejuízo de
muitas outras existentes por aí a expressar a mesma coisa, em graus
e níves, entretanto, variados, consoante a vibração da mente do
ser.
Mas onde quero chegar é no
seguinte ponto: na mudança do foco da mente, como nos ensina o
mestre Sana Khan, em suas obras, escritas por Luiz Roberto Mattos,
nas quais ele assevera ser essa mudança de foco um ponto fulcral
para o início da evolução legítima da consciência humana atual.
E se paramos para pensar,
quando divisamos as coisas como elas realmente são, ou seja, do
ponto de vista do espírito, da consciência, acabamos valorizando as
coisas que realmente têm valor. Passamos a deixar um pouco de lado
as coisas egóicas, e realmente isso no começo pode ser um tanto
assustador, haja vista a imensa mudança de paradigma que acontece na
nossa mente. Como um simples exemplo, podemos perceber, e digo isso
por mim, a diferença de pensamento e de padrão mental, de hoje para
os dias anteriores em que não tive essas experiências. Eu queria
ser autoridade, ter poder, ter dinheiro sobrando, poder comprar as
coisas, usufruí-las, etc. Mas depois que passei a viver mais a vida
do espírito, depois que passei a ter experiências que me
comprovaram tão claramente como a luz solar que eu não sou esse
corpo unicamente, os valores, a minha busca, passou a ser a aquisição
da felicidade, da sabedoria, da paz no coração, do desenvolvimento
da compaixão, passou a ser o planejamento do que fazer para me
tornar uma consciência mais ampla, mais dilatada, mais útil nesse
grande cenário da vida de nosso Deus Criador, porque, acreditem-me,
trabalho há imensamente, e quando a alma está ciente de sua
natureza, e faz aquilo que lhe traz paz, o trabalho se transfigura em
delite e prazer imensos. Por isso, não raro escutamos que as almas
nunca param de trabalhar, isso falando das almas boas, das
consciências já desprendidas do cadeado das ilusões imediatistas,
uma vez que, de fato, para elas trabalhar é um presente divino,
poder ser útil, poder fazer o bem, ser concorrente desse concerto
todo, é realmente uma graça!
Aspiro, portanto, chegar nesse
nível um dia. Ainda estou longe, preciso limpar a minha alma, por
assim dizer, os meus corpos sutis, das energias acumuladas pela má
conduta cármica de vidas passadas, mas trago bem firme na mente esse
desejo de um dia ser um tijolo útil no castelo de Deus em benefício
de toda a criação.
Falo em limpar a alma, porque
já renasci, ou melhor, já voltei a encarnar num corpo de carne,
sabendo que iria passar por doenças, principalmente na área
gástrica e intestinal, e sabia que essa era a forma de limpar os
meus erros, as memórias de atos equivocados, de maldades praticadas,
porque todos os nossos atos ficam energeticamente registrados no
corpo psicossomático, ou ainda, em um nível mais sutil, no corpo
mental, e a alma não sente tranquilidade enquanto não escoimada de
seus vícios. É como uma roupa suja que precisa ser lavada para que
você possa ir bem bonita a uma festa. Exemplo banal, mas serve para
a finalidade.
Existem certas regiões no
astral, em que não podemos ir se tivermos nosso corpo astral pesado
pelo acúmulo desses energias, e lá nós passamos a ver a felicidade
desses tantos outros irmãos e irmãs, todos consciências como nós,
que foram melhores do que nós em conduta, em sentimento, em ação,
e que podem acessar tais locais, e desejamos arduamente lhes igualar
em possibilidade, para também sentirmos essa felicidade, para também
podermos trabalhar em prol do bem Maior, visto que nisso consiste o
fanal das grandes almas, propulsor da paz verdadeira.
Então chega um momento em que
escolhemos, ou nos é imposto, renascer em tal ou qual situação
física desajustada para reequilibramos as nossas energias, limparmos
nossos veículos de consciência, e galgarmos mais degrais na
evolução.
Ainda bem que o Criador, do
qual fomos emanados, e digo isso porque de certa forma somos parte
dele, e ele é parte de nós, é todo misericórdia, e nunca fecha as
portas da regeneração às almas verdadeiramente arrependidas e
sinceras.
E ainda bem que tem
consciências amigas, que já nos precederam em muito nesse jornada,
que optam por nos ajudar a subir a escada da evolução, almas amigas
que nos dão apoio, uma encarnadas conosco no mesmo cenário, outras
ainda no outro lado da vida, mas que são verdadeiros faróis para
nossas almas peregrinas.
A dor, portanto, quando vem
dessas causas de nascença, aparentemente produzidas por aquilo que
chamamos de má sorte, não tem outra causa senão esta. Não é uma
apologia ao sofrimento, mas sim um pincelada rápida sobre a
necessidade de saber sofrer com proveito, para o benefício da
própria alma. O sofrimento rebelde, irresignado, raivoso, para nada
serve senão para agravar o quadro de dor, e manter a alma a repetir
ainda mais e mais tais lições, como o aluno que reprova de ano na
classe escolar. Não é disso que estou comentando, mas sim sobre a
consciência de que, às vezes, o remédio amargo é necessário para
cicatrização e que devemos suportá-lo com coragem e fé.
Verdadeiramente, não sei bem
porque estou escrevendo essas coisas, apenas estava me sentindo mal,
passei o dia com problemas de saúde, meio cabisbaixo, e resolvi
sentar aqui para escrever sobre outra coisa, e acabou saindo esse
texto, talvez para mim mesmo, mas que, por poder ser útil também a
mais alguém resolvi publicar no blog.
Que a paz verdadeira se
instale nos corações.
Que possamos todos evoluir em
consciência.
Que possamos, com isso, ser
úteis e mais profundamente felizes e autorrealizados.
E isso, crede-me, tem muito
mais valor e está muito, mas muito mais além, do que ter isso ou
aquilo aqui nesse plano material, essa ou aquela posição social,
nada disso…
São conquistas interiores,
personalíssimas, suadas, e de cada um.
Fica a reflexão.
Rodrigo, Lavras do Sul,
22/04/2020.