sábado, 4 de julho de 2020

Convite



Amigo, amiga, sabe que há alguma coisa, alguma força em nós, no nosso coração, lá no fundo, que se recusa a desistir… A desistir da vida, do propósito, do fanal… Alguma coisa que, até deixa você gritar de desespero por algumas horas, mas que no fim de cada dia, quando você recosta a cabeça no travesseiro insiste em queimar o seu coração com a marca da sua presença… Sim, queimar, marcar… E faz isso de forma tão forte e intensa que lava a sua alma e refaz suas migalhas de vigor para facear, no amanhã, ainda que entre passos fracos e trôpegos, um novo dia… Até aquele dia derradeiro que só essa força saberá delinear…

Durante muito tempo, meu amigo, minha amiga, eu sentia vergonha de escrever sobre as minhas dores, sobre as dores do meu coração, da minha alma… Puerilidade ou recato, não o sei dizer, mas alguma barreira se estendia entre mim e essas palavras que ficavam, não raro, atoladas na garganta, espremendo-se para sair de alguma forma, acabando por se manifestar como crises de ansiedade, temor, palpitações, gagueira, tristeza somatizada… Hoje, porém, mais humanizado, mais calibrado e humildade, produto do aguilhão inexorável da dor que toca a minha a vida, reconheço que devo partilhar sim dessas palavras, pois são as notas musicais, ainda que desarmônicas, do instrumento chamado ser humano que sou…

Então, ponho-me a escrever, depois, é claro, de uma oração, ou, mais propriamente, uma conversa toda sincera com o senhor do trono do amor que vive em mim, que habita em cada um de nós… A minha mais sentida esperança, a única força capaz de me reerguer dos escombros…

Assim, meu amigo, minha amiga, que eu me encerro no meu quarto, de olhos cabisbaixos, muitas vezes regados de orvalhadas lágrimas de sentimento de impotência, diante de tamanhos vulcões da vida, para abri-me ao nosso Pai Celestial, Fonte de Todo Poder e Glória, Senhor de Todos os Reinos, Senhor de Nossas Vidas… E sabe o que me faz mais sentido ainda? É que esse Poderoso Monarca me ouve ! Logo a mim, criatura tão pequena, cheia de defeitos, e Ele me ouve de forma tão carinhosa que, às vezes, toca nos refolhos mais íntimos de minhas feridas, cicatrizando com Mãos Santas, uma a uma, pacientemente, como um Enfermeiro dedicado que auxilia sem ver a quem, como dizem na poesia, da mesma forma que o vento, o qual não fala mais docente aos carvalhos gigantes do que às menores das folhas da grama… Então, estimado, estimada, pingam mais orvalhos do caule seco e trépido do meu ser, contudo, dessa vez, gotas de alegria, amor e reconhecimento todo esperançoso de que Ele, o Senhor dos Tronos, nunca me deixa sozinho, assim como nunca deixa você sozinho ou sozinha, nem mesmo depois do derradeiro sono, pois Ele é quem dá a pincelas e a tonalidade na tela esplêndida de cada novo renascer, como um Artista Primoroso, que não se cansa de apreciar a beleza de sua própria obra, feita e refeita, incontidas vezes…

Isso não é, pois, meu amigo, minha amiga, mais do que um singelo depoimento de um coração humano a destilar o perfume de um convite a você: um convite para cultivar o hábito da conversa com o Nosso Pai, bem aí no seu coração, bem no meio dele, na sede da sua alma, no templo do seu espírito, por maiores sejam as conjunturas temporariamente desagradáveis que rondem a sua tenda… Eu não gostaria de confessar, mas apenas de minhas três décadas e pouco de sonho nessa terra, posso dizer que conheço a dor física bem de perto, e sem querer entrar em detalhes sobre minha personalidade, o que não importa, posso afirmar que sempre, mas sempre mesmo, depois de cada bordoada da vida, a Mão Segura e Firme e Toda Carinhosa do Meu Pai esteve ali, bem do meu lado, me pegando no colo e me enxugando as lágrimas e feridas, empurrando-me sorridente para um novo recomeço, bem como aquele pai que embala feliz a sua criança numa praça de balanços e diz a ela que siga, que vá, pois Ele está ali a postos se precisar…

Então, converse com Deus, à sua maneira, ao seu modo, mas não deixe se apagar essa chama que habita o seu interior, pois a menor das chamas já é combustível suficiente para vencer imensidade de sombras…

Escrito pelo meu coração, observado pelo Pai, em Lavras do Sul, no dia 04/07/2020, às 22h51min, gentilmente Rodrigo.

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