Amigo, amiga, sabe que há alguma coisa, alguma força em nós, no
nosso coração, lá no fundo, que se recusa a desistir… A desistir
da vida, do propósito, do fanal… Alguma coisa que, até deixa você
gritar de desespero por algumas horas, mas que no fim de cada dia,
quando você recosta a cabeça no travesseiro insiste em queimar o
seu coração com a marca da sua presença… Sim, queimar, marcar…
E faz isso de forma tão forte e intensa que lava a sua alma e refaz
suas migalhas de vigor para facear, no amanhã, ainda que entre
passos fracos e trôpegos, um novo dia… Até aquele dia derradeiro
que só essa força saberá delinear…
Durante
muito tempo, meu amigo, minha amiga, eu sentia vergonha de escrever
sobre as minhas dores, sobre as dores do meu coração, da minha
alma… Puerilidade ou recato, não o sei dizer, mas alguma barreira
se estendia entre mim e essas palavras que ficavam, não raro,
atoladas na garganta, espremendo-se para sair de alguma forma,
acabando por se manifestar como crises de ansiedade, temor,
palpitações, gagueira, tristeza somatizada… Hoje, porém, mais
humanizado, mais calibrado e humildade, produto do aguilhão
inexorável da dor que toca a minha a vida, reconheço que devo
partilhar sim dessas palavras, pois são as notas musicais, ainda que
desarmônicas, do instrumento chamado ser humano que sou…
Então,
ponho-me a escrever, depois, é claro, de uma oração, ou, mais
propriamente, uma conversa toda sincera com o senhor do trono do amor
que vive em mim, que habita em cada um de nós… A minha mais
sentida esperança, a única força capaz de me reerguer dos
escombros…
Assim,
meu amigo, minha amiga, que eu me encerro no meu quarto, de olhos
cabisbaixos, muitas vezes regados de orvalhadas lágrimas de
sentimento de impotência, diante de tamanhos vulcões da vida, para
abri-me ao nosso Pai Celestial, Fonte de Todo Poder e Glória, Senhor
de Todos os Reinos, Senhor de Nossas Vidas… E sabe o que me faz
mais sentido ainda? É que esse Poderoso Monarca me ouve ! Logo a
mim, criatura tão pequena, cheia de defeitos, e Ele me ouve de forma
tão carinhosa que, às vezes, toca nos refolhos mais íntimos de
minhas feridas, cicatrizando com Mãos Santas, uma a uma,
pacientemente, como um Enfermeiro dedicado que auxilia sem ver a
quem, como dizem na poesia, da mesma forma que o vento, o qual não
fala mais docente aos carvalhos gigantes do que às menores das
folhas da grama… Então, estimado, estimada, pingam mais orvalhos
do caule seco e trépido do meu ser, contudo, dessa vez, gotas de
alegria, amor e reconhecimento todo esperançoso de que Ele, o Senhor
dos Tronos, nunca me deixa sozinho, assim como nunca deixa você
sozinho ou sozinha, nem mesmo depois do derradeiro sono, pois Ele é
quem dá a pincelas e a tonalidade na tela esplêndida de cada novo
renascer, como um Artista Primoroso, que não se cansa de apreciar a
beleza de sua própria obra, feita e refeita, incontidas vezes…
Isso
não é, pois, meu amigo, minha amiga, mais do que um singelo
depoimento de um coração humano a destilar o perfume de um convite
a você: um convite para cultivar o hábito da conversa com o Nosso
Pai, bem aí no seu coração, bem no meio dele, na sede da sua alma,
no templo do seu espírito, por maiores sejam as conjunturas
temporariamente desagradáveis que rondem a sua tenda… Eu não
gostaria de confessar, mas apenas de minhas três décadas e pouco de
sonho nessa terra, posso dizer que conheço a dor física bem de
perto, e sem querer entrar em detalhes sobre minha personalidade, o
que não importa, posso afirmar que sempre, mas sempre mesmo, depois
de cada bordoada da vida, a Mão Segura e Firme e Toda Carinhosa do
Meu Pai esteve ali, bem do meu lado, me pegando no colo e me
enxugando as lágrimas e feridas, empurrando-me sorridente para um
novo recomeço, bem como aquele pai que embala feliz a sua criança
numa praça de balanços e diz a ela que siga, que vá, pois Ele está
ali a postos se precisar…
Então,
converse com Deus, à sua maneira, ao seu modo, mas não deixe se
apagar essa chama que habita o seu interior, pois a menor das chamas
já é combustível suficiente para vencer imensidade de sombras…
Escrito
pelo meu coração, observado pelo Pai, em Lavras do Sul, no dia
04/07/2020, às 22h51min, gentilmente Rodrigo.
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