domingo, 12 de julho de 2020

A Consciência - Ego - Transformação




Durante a minha adolescência eu devorava algumas obras de destaque de Carl Gustv Jung. Na faculdade em meio aos livros de Direito sempre havia comigo algum livro da psicologia profunda. Essa vontade de estudar Jung surgiu ao ouvir as palestras de Divaldo P. Franco e notar que ele citava muito aquele psicólogo e psiquiatra suíço. Então eu decidi que deveria saber mais sobre ele. Comecei então a adquirir algumas de suas preciosas obras, entre as quais, Arquétipicos e Inconsciente Coletivo, O Homem e seus Símbolos, além de algumas outras publicações sobre religião e sincronicidade em relação às quais não me recordo agora o nome. E quando surgiu a publicação do "grande" Livro Vermelho, me recordo de ter juntado as poucas migalhas de dinheiro que tinha, pois eu ainda era um estudante sem economia própria, e adquiri o livro que para mim foi muito caro na época. Nesse último livro me chamava a atenção a busca de Jung por sua alma e as imagens elaboradas, as mandalas, todas com profundo significado de união com o Ser. 
Mas onde eu quero chegar é que em algum livro, onde C.G. Jung falava sobre alguns pensamentos como verdadeiras "diabetres eneducáveis" que perturbavam a pessoa, ele mencionava que a consciência poderia mudar qualquer coisa. Que quando se colocava o foco da consciência sobre determinado aspecto, aquilo poderia ser transformado. Entendi na época como uma espécie de autorremédio da alma. Uma forma de curar-se a si mesmo de alguma coisa interior que não se deseja que esteja na forma como está. Pois bem, comecei a procurar mais assuntos de como desenvolver essa consciência, pois eu tinha/tenho coisas em mim, no mundo emocional, no mundo dos pensamentos, que queria/quero mudar, como a ansiedade, o nervosismo, o ato de gaguejar e emperrar por vezes em algumas situações, tudo isso que eu sabia ser de fundo psicológico emocional. 
Durante muito tempo me perdi em pensamento de como deveria utilizar a consciência como uma arma a meu favor, como um farol verdadeiro a iluminar as sombras da alma, para o fim de eu viver mais feliz. Veja a expressão "eu" viver mais feliz. Quem é esse "eu" que deseja tornar-se algo? Hoje, cerca de 15 anos depois eu sei, na época, contudo, não sabia, e aí estava o "pulo do gato". 
Utilizara a consciência mirando as coisas que não gostava e nada mudava, reconhecia em mim a ansiedade e as outras diabretes e nada mudava. Conseguia sentir e entender que estava sob a influência de toda uma constelação de pensamentos, energia psíquica na minha mente e nada mudava mesmo assim. Então me dei por conta de que ou Jung se confundira com sua assertiva sob o papel transformador da consciência ou eu não sabia como utilizar esse papel. Claro que preferi seguir a linha da segunda opinião, pois afinal quem era eu, um simples estudante, comparado ao eminente doutor. O bom senso me levava a questionar, portanto, as minhas próprias conclusões e tive a certeza de que estivera usando equivocadamente todo o meu esforço. 
Procurei então psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos, todos muito bons profissionais, sem dúvida, mas que apesar de me ajudarem a descascar um pouco das minhas arestas, não conseguiam atingir com acuidade o ponto onde eu ansiava que fosse transformado, a minha alma, aquilo que realmente sou, nem eu mesmo sabia bem o que era na época. A própria denominação de ser um espírito era incompleta na forma como eu a entendida, pois era visto como algo separado do todo, apesar de anos também ter frequentado instituições espíritas muito boas, mas que também, a despeito de me abrirem um novo horizonte de conhecimento de fenômenos novos não abarcavam o remédio buscado por meu coração. 
Eu não sabia usar a consciência. Não sabia, pois, o que era realmente essa entidade. Não conseguia manejar os seus recursos preciosos. Sabia, entretanto, estar nela a tão sonhada porta para a ascensão dentro de minhas próprias potencialidades inatas até então obscurecidas. 
Enfim, descobri nas obras de Eckhart Tolle e de outros pensadores modernos o que estava faltando. Comecei a relacionar com os estudos de Budismo que também eu houvera feito. Da mesma forma comparei com estudos hinduístas e assim por diante e comecei a notar que todos, no fundo, diziam a mesma coisa, mas diziam de forma diferente, mostravam a mesma verdade com cores diversas, como um artista que pinta uma obra diversas vezes usando tonalidades distintas que não chegavam a ofuscar o formato do desenho original. 
Acontecia que a parte de mim que eu julgava estar tomando consciência de alguma coisa era o ego. O ego, esse complexo de pensamentos, sentimentos, emoções, dotado de um corpo, no qual recebemos um nome quando crianças e nos coloca então no mundo de forma separada de tudo e todos, pois sabemos que a criança, na infância primeira, não tem esse senso de separação, nem mesmo da mãe dela, acreditando que tudo e ela são a mesma coisa, e ela sempre esteve certa! 
Então, eu focava, eu ligava a lanterna da visão interior, utilizando o sujeito do ego, olhava para as diabretes ainda com emoção, olhava para as coisas no meu interior (tomava consciência, portanto) utilizando raciocínio analítico, pensava sobre elas, e cometia o maior dos erros, eu tentava achar uma solução com a mente racional, como um matemático que tenta resolver uma intricada fórmula matemática. Claro está que nunca obtive êxito. O ego que mirava, na verdade, também deveria ser um alvo a ser mirado, não por ele próprio, cheio de raciocínios, pensamentos e emoções, mas sim deveria ser notado, percebido, serenamente, pelo Ser Verdadeiro por detrás do ego, pela mesma entidade que sai do meu corpo, às vezes, sem forma, sem nome, e com o qual fico muito feliz de reconhecer a Mim Mesmo como Self. 
Esse Sujeito, ou melhor, o Ser Primordial por detrás do ego, que usando a Consciência, é que pode transformar tudo dentro de nós. Por vezes, em algumas literaturas Ser e Consciência são tidos pelo mesmo. Não está errado, aqui é questão de palavras, de colocação. De fato, a Consciência é o que Somos. O ego é um complexo com o qual o nosso personagem se confunde durante a vida toda e vive sonhando ser o que Somos, mas não é. O ego se visto com os Olhos do Ser se esvai como uma névoa. Pode e deve contudo ser utilizado como instrumento do Ser, assim como a mente é instrumento do ego. O Ser não precisa pensar, ele é pura Presença. É o Estado de Agora completamente lúcido e presente. E ligava-se a tudo o que existe no universo. Daí porque alguns afirmarem repletos de sabedoria que não existe o "lá fora" e o "aqui dentro". Hoje posso sentir o que é isso. E daí também porque alguns dizem que o caminho mais longo que um homem pode percorrer não é outro senão aquele que vai da cabeça ao coração. O Coração, com efeito, é o local geográfico por assim dizer onde fica a Consciência da Alma, não o coração físico, a região do peito. Notem as várias imagens religiosas e se espantam com as pinturas dos "sagrados corações" e entendam que tem muito mais de significado ali do que um ser bondoso...
Tem dias que acredito estar chegando ao fim da minha vida corporal, e por isso me ponho a escrever isso. Claro que não tenho bola de cristal. Mas como não tenho ciência de tudo, nem dia, nem da hora, nem do lugar, não poderia arriscar partir para outra dimensão sem deixar esses comentários a todos aqueles que de boa vontade procuram um caminho para entenderem a si mesmos com sinceridade. 
Votos de paz. 
O Eu Consciente (utilizando o Rodrigo-ego, para escrever). 


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