terça-feira, 14 de julho de 2020

Um sonho e uma pergunta: o que é real ?




"Por que eu devo acreditar nisso?". Foi esse o questionamento a que minha consciência me levou após um grande aprendizado obtido de um "sonho inconsciente".

Entenda aqui sonho inconsciente como aquele fantasioso, impregnado de conteúdos mentais, palco de teatro do ego com seus pensamentos, imagens mentais e emoções. Difere, portanto, completamente da "projeção astral", na qual a consciência desperta lúcida em outro nível dimensional e pode agir mais ou menos como agimos aqui, é claro que com as faculdades dos sentidos e as potencialidades ora mais aguçadas, ora mais obscurecidas.


Diferir esses dois pontos é muito importante. Não se pode querer comparar laranjas como maçãs...


Mas ocorre que esse sonho inconsciente me levou a meditar sobre a realidade, sobre o palco desta vida, sobre as ideias de "maya", "samsara", "ilusão", entre outros, e a refletir sobre o importante papel da autoconsciência no caminho do despertar. Utilizo o termo "caminho" do despertar, pois é ainda difícil para mim falar em um despertar pleno, visto que, estando em pleno processo, isto é, engajado nessa caminhada, não raro caio nas amarras do ego com todas as suas consequências.


Nesse sonho inconsciente, eu dizia para o meu pai "veja, pai, como estou mais magro"; "veja, aqui, olhe, mais essas costelas saltaram". E enquanto dizia isso entristecido com a doença, ia tirando o blusão, a camiseta, até que fiquei sem camisa na frente dele, sentindo vontade de chorar.


Instantes depois, na mesma cena do sonho, percebi minha mãe e meu pai no quarto. Minha mãe sentada logo atrás de mim, na minha cama, e meu pai em pé observando o fato de eu lhe ter mostrado as costelas. Então, senti um aperto no pescoço e notei que estava utilizando uma dessas golas avulsas de tecido, de um tecido mais ou menos resistente, e que eu quis retirar aquela gola do pescoço, pois estava me apertando, contudo não tive forças de fazê-la sair pela cabeça devido à extrema fraqueza, quando então gritei: "mãe, por favor, me ajude aqui, me ajude a retirar essa gola, ela está me sufocando", ao que minha mãe, no sonho, redarguiu "não vou ajudá-lo, tire-a você, pois se você teve forças para tirar a camiseta e mostrar suas costelas para o seu pai, também pode retirar essa gola do seu pescoço". Eu, nesse momento, entrei em pânico, me coração acelerou, eu fui como que sufocando, senti extrema falta de ar, e disse por entre os lábios entreabertos, como quem roga um derradeiro favor "mãe, é sério, acredita em mim, eu não estou conseguindo... Mãezinha, por favor, é sério, tire essa gola de mim, porque estou desmaiando"... Quando falei isso, senti todas as "sensações físicas", "reais" de estar na iminência de um síncope. Então, despertei na cama de sobressalto meio tenso, nervoso, sufocado, e ainda com extrema dificuldade de respirar...


Qual não foi o meu alívio quando parei e dei-me por conta dizendo, para me autoconfortar, "calma, calma, calma, Rodrigo, foi só um sonho, apenas um sonho". Após isso a respiração tomou seu regular curso, relaxei, abri bem os olhos, me estiquei na cama, e soltei um suspiro...


Incrível as sensações ! Extraordinário filme ultrarrealista assomou nos meus painéis mentais...

Mas, enfim, aonde quero chegar ?


Quero chegar na própria natureza da "ilusão" dessa vida. Lembrando novamente, como já dissera, em outros escritos, que dizer que esta é uma ilusão nada tem a ver com dizer que ela não exista, que não tenha seus efeitos, que não reaja sobre nós com todo o seu peso, mas, sim, apenas significa que não é a realidade última, assim como o sonho não traduz a realidade do período de vigília, ela é como um jogo de videogame, alguns ainda usam a expressão matrix, tão bem delineada nos filmes de "ficção" da respectiva série, que pode ser colocada também aqui para fins de aproximada compreensão.


O ego faz isso com a gente, ele cria todo um cenário, trama um enredo em nossa mente, produz dor, sofrimento, doenças, guerras, desunião, e toda uma vasta gama de desequilíbrios inimagináveis, tamanha a sua capacidade criativa.


Não podemos dizer que uma coisa é real porque tivemos sensações. Para muitos, ser real equivale a dizer "sim, eu vi, eu senti, aquilo aqueceu a minha mão, senti o calor queimando os pelos do meu braço", só para me valer de um exemplo hipotético.


Mas no sonho - e aqui eu pergunto - nós também não sentimos as coisas tão palpáveis?!


Sim. Sentimo-las deveras tangíveis como quando despertos e temos sensações tão fortes ou até mesmo maiores do que as sentidas na vigília.


O que então é a realidade?


A doença, o pecado, a morte, as guerras, as catástrofes, tudo isso de fato existe ou se trata de uma encenação de um grande e convincente filme projetada na tela mental dos nossos seres adormecidos pela falsa ilusão da realidade?


Isso fica para pensar. Não vou me atrever a sinalar esse ou aquele caminho, pois o roteiro da caminhada depende de cada um e isso deve ser respeitado. Mas lembrem-se de que muitas consciências já experimentadas nos aconselharam a questionar as coisas...


Então, questione !

Use um enorme ponto de interrogação.

Não pare até encontrar a sua verdadeira essência luminosa, o profundo estado de presença e de paz para além de todo o entendimento.


E por fim, talvez uma pista para isso esteja lá, como dizem na "missa", bem "no meio de nós", no portal sagrado do nosso coração!


Incrível, não é mesmo?


Mas as grandes verdades - nos afirmam - além de paradoxais, encontram-se nas coisas mais simples...


Votos de paz!


Lavras, 14/07/2020.




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